Conta Alice Ruiz que, quando sua filha Áurea nasceu, o pai Paulo Leminski ficou até tarde perambulando pela cidade e voltou com uma letra na cabeça, “Luzes”: “Essa noite/ essa noite vai ter sol”. O nascimento é cercado de metáforas luminosas. “Dar à luz” é parir e “vir à luz” é nascer. A luz gera a vida, através da fotossíntese. Não à toa, luz é substantivo feminino.
O livro também nasce e “vem à luz”, ou “a lume”, quando é publicado. A caixinha de fósforos diz “fiat lux”, “haja luz”, como teria dito Deus ao criar o dia, depois do céu e da terra. O Lúcio e a Lúcia nasceram ao alvorecer; o Luciano é matinal. Mas como explicar que “lúcifer” é ao mesmo tempo aquele que carrega a luz e o ilustre chefe dos demônios? Alguém me dá uma luz?
Luz, luce, lumière, light, Licht: todo mundo vem da mesma raiz indo-europeia “leuk”, “ser luminoso, iluminar”, que deu no grego “leukós” (donde “leucócito”) e em uma vasta cognação latina, conforme mostra o dicionário Houaiss. Inclua-se aí “luna”, na origem “leuk-s-na”, um epíteto que queria dizer “a brilhante” e se tornou substantivo. Os antigos evitavam pronunciar seu nome, pois a Lua era “um ente poderoso e malfazejo”, um pouco como o “coisa ruim”. Será todo brilho diabólico?