Luz ambiente, som ambiente, pressão ambiente, temperatura ambiente. Segundo podcast do dicionário Merriam Webster, o adjetivo “ambient” pode parecer hoje um termo técnico, que cabe bem na boca dos especialistas, mas já foi muito usado por poetas, como John Milton e Alexander Pope.
Não que a poesia esteja tão distante da técnica, conforme mostram estes versos tirados de “Diamundo: 24h de informação na vida do jornaledor”, de Carlos Drummond de Andrade: “Nesta cobertura você vai descobrir/ novo conceito de viver/ living em duplo L e 3 ambientes/ música FM na área social/ acabamento para não acabar nunca/ piscina jardim/montanhas ao longe/ sem aumento de preço”. Aqui, emprestado do jargão arquitetônico, “ambiente” é substantivo com o sentido de “cômodo”.
Conterrâneo de Drummond e também talentoso criador de jornais imaginários, Paulo Mendes Campos usa a palavra de outro modo na abertura de “Andantino”, breve prosa poética em que se queixa das novas formas de se andar na praia. O autor lembra com nostalgia: “Andar era um gesto social, espairecer, embeber-se de ambiente”. A palavra aparece aqui como sinônimo de “atmosfera” — e muito falamos em ambiente tenso, saudável, insalubre, propício, festivo, familiar.