O governo britânico vai conceder 10.500 vistos de trabalho temporários para mitigar a escassez de mão de obra que afeta setores importantes da economia. A permissão é destinada especificamente a trabalhadores do transporte e do setor avícola. Eles poderão permanecer no Reino Unido por três meses, entre outubro e dezembro de 2021.
A concessão dos vistos, anunciada pelo governo no sábado (25), foi recebida com surpresa, já que o primeiro-ministro Boris Johson se elegeu com um discurso avesso à imigração e a favor do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, justamente para fechar a fronteira a imigrantes e refugiados.
A gravidade da situação, no entanto, ajuda a explicar a medida. A falta de caminhoneiros tem provocado desabastecimento em supermercados, redes de fast food e postos de gasolina. No domingo (26) havia relatos de filas longas para abastecer carros em diversos pontos de Londres, já que os britânicos temem um agravamento da situação.
O secretário de Transportes, Grant Shapps, disse à BBC que os vistos temporários fazem parte de um grande pacote pensado pelo governo para lidar com o desabastecimento. A intenção é atrair motoristas de outros países da União Europeia, que podem ter deixado o Reino Unido depois da aprovação do Brexit. Em paralelo, outras medidas serão adotadas, como a liberação de milhares de libras pelo Ministério da Educação para formação de 4 mil caminhoneiros.
Além do êxodo provocado pela saída da União Europeia, a associação Logistics UK também atribui a falta de profissionais do transporte a outros fatores, como má remuneração, mudanças fiscais, o envelhecimento populacional e os impactos da pandemia. A estimativa do governo é que o Reino Unido sofre atualmente com a falta de 100 mil caminhoneiros. Diante de um deficit tão grande, a concessão dos 10 mil vistos não foi recebida com tanto entusiasmo por alguns órgãos e associações do setor. A Câmara de Comércio Britânica disse que a medida era como “jogar um dedal de água na fogueira”.
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