A Amazônia ocupa 6,7 milhões de km² que se distribuem em nove países da América do Sul – 4 milhões de km² estão só no Brasil. Devido à diversidade de ecossistemas, o bioma serve de habitat para cerca de 10% de todas as espécies de animais e plantas do mundo, segundo relatório divulgado em 2021 pelo PCA (Painel Científico para a Amazônia). Diante de ameaças agravadas pela ação do homem, porém, centenas delas correm risco de extinção.
É justamente a conservação da fauna e da flora o tema central da COP15, conferência da ONU que reúne líderes globais para discutir medidas de proteção à biodiversidade e acontece em 2022 até 17 de dezembro em Montreal, no Canadá.
Neste texto, o Nexo apresenta os principais números da biodiversidade amazônica, traz exemplos de espécies endêmicas e apresenta os maiores riscos enfrentados por muitos animais e plantas na floresta tropical.
A biodiversidade em números
De acordo com o PCA (Painel Científico para a Amazônia), cientistas já descobriram pelo menos 2.406 peixes na Bacia Amazônica, 427 anfíbios, 371 répteis, 1.300 aves e 425 mamíferos. Em relação à flora, são cerca de 50 mil espécies de plantas vasculares.
Alguns grupos de biólogos acreditam (e criticam) que haja uma concentração de dados produzidos na porção brasileira da Amazônia. E, apesar dos números surpreendentes, especialistas garantem que eles ainda estão longe da realidade – e que há muito a ser explorado na floresta amazônica.
Só entre 2014 e 2015, 381 novas espécies de vertebrados e plantas foram descobertas na Amazônia, de acordo com um inventário produzido pela WWF Brasil e pelo Instituto Mamirauá. Ou seja, é como se a cada dois dias um novo tipo de animal ou árvore tivesse sido registrado por um cientista.
20
novos mamíferos foram descobertos em 2014 e 2015
93
novas espécies de peixes foram descritas por cientistas em 2014 e 2015
A extensa diversidade na Amazônia representa aproximadamente 13% dos peixes de água doce de todo o mundo. Desses, 58% não são encontrados em nenhum outro rio ou lago da Terra.
40%
dos mamíferos que vivem na planície amazônica não são encontrados em nenhum outro lugar do planeta
70%
dos répteis são endêmicos na planície amazônica
86%
dos anfíbios são endêmicos na planície amazônica
Por que tão diversa
Fatores múltiplos estão por trás do tamanho da diversidade amazônica: a própria diversidade climática da região, os fluxos de água, os solos e a geomorfologia contribuíram para a criação de ecossistemas capazes de abrigar distintas espécies terrestres e aquáticas.
A heterogeneidade de habitats e do clima, por sua vez, tem relação direta com o soerguimento da Cordilheira dos Andes, que estimulou eventos de adaptação de espécies. A elevação dos Andes causou ainda uma reorganização dos rios que se mostrou favorável à diversificação e à dispersão das espécies.
Descobertas nos últimos anos
Zimmerius chicomendesi
O pássaro poiaeiro-de-Chico-Mendes (ou Zimmerius chicomendesi) carrega uma homenagem ao seringueiro e ambientalista que se tornou símbolo da luta pela preservação da Amazônia. A ave foi descoberta em 2011 e formalmente descrita em 2013, e é uma grande dispersora de sementes da planta Oryctanthus alveolatus. Existe somente na Amazônia, e não é difícil encontrar o poiaeiro na região – desde que se esteja atento ao seu canto.
Ammoglanis obliquus
Com manchas espalhadas pelo corpo, o pequeno bagre Ammoglanis obliquus foi visto pela primeira vez em 2019 num igarapé na região metropolitana de Manaus. A descoberta foi publicada em fevereiro de 2020 e detalha os hábitos do peixe, que se alimenta do sangue de animais maiores ou em decomposição.

Mico munduruku
Também endêmico da Amazônia brasileira, o sagui-dos-munduruku foi descoberto em 2019 nas terras dos indígenas Munduruku, ao sul da floresta. Do gênero Mico, o sagui tem uma característica considerada incomum para primatas sul-americanos: seu rabo é totalmente branco.
Como protegê-los
O avanço do desmatamento que dá lugar a plantações de soja e rebanhos, a degradação florestal pela exploração madeireira, as queimadas, a expansão da mineração e da garimpagem e a criação de barragens e hidrelétricas são algumas das ameaças que os habitats da fauna e da flora amazônicas sofrem.
O primeiro passo para sua proteção é impedir o aumento da degradação ambiental. Unidades de conservação e terras indígenas têm se mostrado as grandes protetoras da biodiversidade das florestas e, por isso, sua defesa territorial pode ser uma importante estratégia de preservação.
Segundo texto dos biólogos Cecília Gontijo Leal, Erika Berenguer e Filipe França publicado em dezembro de 2021 no Nexo Políticas Públicas, outra medida a ser tomada é o cumprimento das leis de proteção da vegetação nativa em áreas privadas, que correspondem a metade do território amazônico.
Investimentos em institutos de pesquisa e universidades são fundamentais para o embasamento de políticas públicas de proteção ambiental. De acordo com eles, a estratégia com o melhor custo-benefício prioriza a conservação simultânea de ecossistemas aquáticos e terrestres.
“A recuperação parcial da biodiversidade é possível, mas proteger as florestas e as águas preservadas é certamente a alternativa mais viável para a manutenção da sua hiperdiversidade”, afirmaram os cientistas.