Na noite de segunda-feira (23), moradores de diversas regiões dos estados do Nordeste foram às redes sociais relatar um estranho clarão avistado nos céus da região.
Pessoas de outras partes do Brasil logo começaram a especular, também nas redes, sobre a origem da misteriosa luz – desde hipóteses plausíveis, como um cometa ou meteoro, a teorias conspiratórias, como a possibilidade de uma invasão alienígena.
Horas depois, o mistério foi esclarecido por jornais locais: na verdade, o clarão era um rastro deixado por um foguete da China, parte de uma missão ousada e grandiosa do país asiático.
O lançamento visto do Brasil
O clarão avistado no Nordeste foi causado pelo foguete Long March 5, lançado na segunda-feira (23) por volta das 17h30 do horário de Brasília, da base espacial de Wenchang, localizada na ilha chinesa de Hainan, na costa leste do país. A trajetória do foguete e a curvatura da Terra favoreceram a visibilidade do rastro
A sonda não tripulada Chang’e 5, que está sendo levada ao espaço pelo foguete, tem como destino a Lua, e seu objetivo é trazer de volta à Terra cerca de dois quilos do solo do satélite.
A operação vai durar duas semanas. A análise do material vai permitir que os cientistas chineses possam entender como a Lua se modificou ao longo de bilhões de anos e, possivelmente, desenvolver métodos para estudar com mais precisão a superfície de outros planetas. Se bem sucedida, a viagem será a primeira desde 1976 a trazer solo lunar para análise na Terra.
O programa espacial chinês
O nome Chang’e 5 foi tirado do folclore chinês, e é uma referência a uma deusa que habitaria a Lua. Sua missão é parte do ambicioso programa espacial da China, que tem como objetivo maior criar uma colônia humana no satélite durante a década de 2030.
Assim como boa parte do mundo, a China criou seu programa espacial na década de 1950, no auge da Guerra Fria. Porém, por décadas a iniciativa foi deixada de lado, e voltou a ganhar força em 2003, quando o país enviou ao espaço seu primeiro astronauta, Yang Liwei. Ele orbitou a Terra por 21 horas, em uma missão que buscava testar as tecnologias aeroespaciais desenvolvidas no país.
A fase atual do programa espacial chinês teve início em 2007, com o lançamento da sonda Chang’e 1, que escaneou 100% da superfície lunar, gerando imagens 3D com alto nível de detalhamento.
As sondas Chang’e 2, 3, 4 e 5-T1 foram lançadas entre 2010 e 2014, sempre coletando dados sobre a Lua.
A China espera lançar as sondas Chang’e 6, 7 e 8 entre 2023 e 2027, dando início à construção de uma base de pesquisas em solo lunar. As missões pretendem pavimentar o caminho para a criação da colônia humana – cujos detalhes não são divulgados pelo governo do país.