Na loja virtual Amazon, “Feline philosophy - Cats and the meaning of life” (filosofia felina - gatos e o sentido da vida, em tradução livre), do filósofo britânico John Gray, conseguiu ficar em duas listas de mais vendidos: na seção de filosofia e na seção de "cuidados felinos".
Em entrevista ao site Dangerous Minds, o autor disse que já havia especulado a respeito de como seria a filosofia se ela partisse de um ponto de vista que não fosse o humano. Quando decidiu transformar esse exercício em livro, escolheu os gatos por serem animais que convivem com humanos, mas que não poderiam ser mais diferentes.
De acordo com Gray, que se declara ateu, a obra tenta imaginar “como uma criatura felina equipada com poderes de abstração pensaria sobre morte, ética, a natureza do amor e o significado da vida”.
Por meio de filósofos franceses como Michel de Montaigne e Blaise Pascal, do holandês Baruch Spinoza e de escolas gregas como o estoicismo e o epicurismo, além das lembranças de seu gato Julian, Gray elabora possíveis ensinamentos que poderíamos extrair do comportamento felino.
“Não viver em um futuro imaginado”, é um deles, afirmou o autor ao jornal britânico The Guardian. “Não sabemos como as coisas vão se desenvolver. E, claro, a resposta política na maior parte dos lugares tem sido desorganizada. Mas a inabilidade em produzir uma resposta clara reflete, eu acho, algo mais profundo: que mesmo o sistema de sabedoria mais bem desenvolvido sempre deixará uma quantidade enorme de incerteza”.
A obra contém muitas citações de autores que eram apreciadores de gatos, como o escritor inglês do século 18 Samuel Johnson. Sofrendo de depressão, Johnson se admirava com a capacidade dos gatos de “passar boa parte de suas vidas em uma solitude satisfeita”.
“Os gatos vivem para ter a sensação da vida, não por algo que possam conseguir ou não conseguir”, declarou Gray. “Se nos ligamos de maneira muito intensa a algum propósito abrangente estaremos perdendo a graça da vida. Deixe todas aquelas ideologias e religiões de lado e o que sobra? O que sobra é a sensação da vida - que é uma coisa maravilhosa”.
Ao Dangerous Minds, Gray afirmou ainda que o livro é uma homenagem aos gatos, criaturas que ele admira por sua “capacidade para a felicidade e coragem de viver sua vida sem distrações ou consolações”.
Não é a primeira vez que o autor se vale de uma espécie animal como veículo para expressar suas ideias. Em 2002, lançou “Cachorros de palha: reflexões sobre humanos e outros animais”, em que buscou “oferecer uma visão das coisas na qual os humanos não são figuras centrais”. A obra rejeita a noção de que o homem controla seu próprio destino e afirma que o progresso é ilusório.
Gray foi ligado por anos à London School of Economics, além de ser colaborador de veículos como The Guardian, New Statesman e o suplemento literário do jornal The Times. Sua bibliografia conta com títulos influentes, como “Falso Amanhecer. Os Equívocos Do Capitalismo Global”, de 1999, e “Al-Qaeda e o que Significa Ser Moderno”, de 2003.