Em cerca de sete minutos, “The Last Video Store” (A última locadora de vídeo, em tradução literal) entrevista donos e funcionários da 20th Century Flicks. A locadora foi fundada em 1982, e passou por duas outras regiões até se estabelecer na área central da cidade inglesa de Bristol.
A loja tem em seu acervo mais de 20 mil filmes — cinco vezes mais do que o catálogo da Netflix americana —, entre VHS e DVDs. Entre os títulos, estão clássicos do cinema, como “Fitzcarraldo” (1981), de Werner Herzog, e filmes B, como “A Virgin Among the Living Dead” (A virgem entre os mortos vivos, em tradução livre, 1973), de Jesús Franco. Segundo os funcionários, é essa mistura que desperta o interesse dos frequentadores e que por muito tempo distinguiu o estabelecimento de outras locadoras.
Atualmente, a loja está no vermelho. Houve um ano em que a receita total foi de 24 libras (cerca de R$ 173, em cotação de novembro de 2020). Mesmo assim, os donos mantêm a locadora aberta pagando aluguel, contas e o salário mínimo de quatro funcionários, muitas vezes usando dinheiro do próprio bolso. Uma parcela significativa dos rendimentos vem de duas salas de cinema, anexas à loja. Para o futuro, os planos são expandir o estabelecimento construindo bar, restaurante e arcade de jogos.
“Não somos exatamente uma videolocadora de sucesso. Somos a última árvore da floresta”
Para os funcionários, o objetivo é manter um espaço de convivência e socialização semelhante ao que eles puderam viver na juventude, apesar do mercado ser hoje dominado por plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime.
A história das locadoras de vídeo
O surgimento das locadoras de vídeo começou com o surgimento do VHS (Video Home System), lançado comercialmente em 1976 pela empresa japonesa JVC. Em 1977, a primeira loja para aluguel de fitas no mundo abriu em Los Angeles, nos EUA.
O mercado cresceu à medida que os preços do VHS diminuíram. Qualquer loja podia vender filmes, mas não os títulos recém-lançados nos cinemas. Estava aí a fórmula para o sucesso das locadoras, que teria na Blockbuster a empresa mais famosa. Entre os anos 1970 e 1990, era comum que as cidades tivessem um punhado de lojas do tipo, algumas com nicho próprio. Era comum que elas tivessem também uma seção popular de filmes eróticos, restrita a adultos.
A chegada dos DVDs no final dos anos 1990 não gerou uma transição conturbada. Na verdade, fidelizou clientes animados com uma qualidade de vídeo mais cristalina. O problema começou de fato com o surgimento de empresas que ofereciam opções de locação online, com o envio de cópias por correspondência.
Tratava-se da Netflix, que quase foi vendida para a Blockbuster em 2000. As negociações não foram adiante e, em 2007, a empresa lança a plataforma de streaming que sacramentou o declínio da locadora de vídeos.
9.000
era o número de lojas Blockbuster no mundo em 2004, o pico em sua história
1
é o número de lojas Blockbuster em 2020. A última se encontra no estado americano de Oregon
A última Blockbuster sobrevive de base de clientes fiéis e turistas que visitam a loja como se fosse um espaço de museu de outros tempos.
No Brasil, entre 1998 e 1999, havia de 11 mil locadoras, no auge do mercado no país. Mais de 4.000 delas existiram só em São Paulo, que teve a primeira loja fundada em 1977. O declínio no país seguiu a tendência mundial, depois da chegada dos streamings. Apesar disso, um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com dados de 2018 mostrou que as locadoras de discos e filmes estavam mais presentes nos municípios brasileiros do que as livrarias: 23,1% contra 17,7%.