A Finavia, empresa estatal que administra os aeroportos da Finlândia, começou nesta quarta-feira (23) a usar cães para detectar a covid-19 nos turistas que chegarem em Helsinque, capital e porta de entrada do país.
No primeiro dia do modelo, quatro cachorros se revezaram em turnos para farejar amostras de suor dos viajantes, identificando aqueles que estavam saudáveis e aqueles que estavam contaminados pelo vírus.
A expectativa é que dez cães sejam empregados na capital. A iniciativa começou a ser desenvolvida em maio pela startup DogWise, capitaneada por cientistas da Universidade de Helsinque e responsável pelo treinamento dos animais.
Como o processo é feito
Ao chegar no aeroporto e passar pela coleta de bagagens, o turista recebe um lenço para esfregar em seu pescoço e, depois, depositá-lo num recipiente de vidro.
O recipiente é posicionado ao lado de outros, que possuem diferentes cheiros, e o cão começa a farejar todos eles. Se o animal detectar o odor que ele associa à covid-19, ele late, se deita ao lado do recipiente, ou bate a pata nele, para sinalizar a descoberta. O processo todo dura cerca de um minuto.
Se houver a sinalização positiva, o funcionário do aeroporto sugere que o turista faça um teste laboratorial do tipo PCR gratuito para confirmar o veredito.
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A eficiência do método
Desde meados da década de 2010, cães têm sido usados em diversos países para sinalizar a presença de doenças em humanos, como o diabetes do tipo 1 e alguns tipos de câncer. A eficiência é cientificamente comprovada nesses casos.
Essas doenças alteram alguns odores corporais, e é possível treinar os cachorros para detectar as mudanças e sinalizá-las para seus adestradores.
O diabetes tipo 1 faz surgir uma mudança no hálito dos pacientes. O isopreno é um composto natural presente na boca humana. Quando o diagnóstico é positivo, os índices da substância aumentam e podem ser detectados pelos cães.
No caso do câncer – como o de próstata ou o de pulmão – os cães conseguem farejar o alcano, substância orgânica que pode ser encontrada em tumores malignos.
Ainda não se sabe o que os cães farejam no caso de pessoas infectadas pelo coronavírus, mas há evidências de que algo desperta a atenção deles.
Um estudo publicado em junho, realizado por cientistas da Universidade de Paris, na França, afirmou que “há indícios muito fortes” de que o suor de quem está contaminado apresenta diferenças em relação ao de pessoas saudáveis, e que essa diferença pode ser farejada por cães, que têm um olfato pelo menos 10 mil vezes mais desenvolvido que o de seres humanos.
Em testes realizados nos laboratórios da DogWise, os cães conseguiram detectar o vírus em quase 100% das tentativas – em alguns casos, até mesmo dias antes dos primeiros sintomas aparecerem.
De acordo com a startup, os animais conseguem sinalizar a infecção com apenas 100 moléculas do vírus – uma quantidade ínfima se comparada com as 18 milhões necessárias em testes laboratoriais.
“É muito promissor”, disse ao jornal The Guardian Anna Hielm-Björkman, líder do projeto. “Se funcionar, teremos um bom método de testagem em outros lugares, como hospitais, casas de repouso e eventos esportivos e culturais”, afirmou.
A DogWise e o governo finlandês ainda não anunciaram se pretendem expandir a iniciativa.
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