O governo israelense decretou na quinta-feira (17) o início de uma nova quarentena nacional para conter uma nova onda de contaminação e mortes pela covid-19 no país.
No dia em que a medida foi anunciada, o país registrou 28 mortes em 24 horas, o número mais alto desde o início da contagem, no dia 20 de março. No dia anterior, quarta-feira (16), foram detectados 8.107 novos casos da doença em 24 horas, um recorde nacional desde o início da pandemia.
A nova quarentena – anunciada pelo gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e rapidamente aprovada pelo Knesset, o Parlamento local – impõe três semanas de confinamento em todo o país.
O período especial tem início na sexta-feira (17) e deve durar até 11 de outubro. Entre as medidas anunciadas está a proibição de deslocamentos superiores à distância de 1 km ao redor do local de residência, sob pena de multa de US$ 145 aos infratores, o que equivale aproximadamente a R$ 760.
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Além disso, a nova quarentena israelense determina o fechamento de todo comércio não essencial que não opere exclusivamente com serviço de entregas a domicílio. Supermercados e farmácias estão entre as exceções. Por fim, estão proibidas as reuniões de mais de 20 pessoas em locais públicos. Em ambientes privados, o limite é de dez pessoas.
Israel já havia feito quarentena semelhante nos meses de março e abril. Da primeira vez, entretanto, as medidas eram mais rígidas. Por exemplo: o raio de deslocamento ao redor da própria casa era de apenas cem metros. Agora passou para 1 km.
As diferenças com a Europa
A decisão de reeditar a quarentena nacional em Israel foi tomada porque subiram não apenas os casos de contaminação, mas também os casos de morte no país. Fenômeno semelhante também ocorre concomitantemente na Europa, com a diferença de que, em países como França, Espanha e Itália, o crescimento das detecções de novos casos não foi acompanhado do crescimento no número de mortos na mesma proporção.
A subida na detecção do contágio era esperada, à medida que os testes se tornam mais numerosos e mais acessíveis. Em países como a França, as testagens ocorrem na casa de 1 milhão por semana. Essa estratégia ajuda a identificar e isolar pessoas que possam transmitir a doença, o que facilita a abordagem regionalizada do problema, sem que haja necessidade de impor restrições nacionais que são penosas tanto econômica quanto socialmente.
Em Israel, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, entretanto, isso não funcionou. As autoridades locais admitiram ter perdido o controle da pandemia.
Israel não é um país grande. Os números absolutos, portanto, não são altos. Proporcionalmente, no entanto, os dados preocupam. Pelo menos 2% dos israelenses já foram contaminados pelo vírus. Nos EUA, país com o maior número de pessoas contaminadas no mundo, esse percentual é de 0,5%.
O peso político da decisão
No dia em que o novo confinamento nacional foi decretado, pelo menos 200 pessoas reuniram-se na Praça Habima, em Tel Aviv, para protestar contra a reedição das medidas.
Muitos manifestantes exibiam cartazes que creditavam o aumento dos casos de contaminação ao aumento dos testes realizados. “Uma pandemia de testes”, dizia um deles, de acordo com o jornal israelense Haartez.
Netanyahu justificou a medida dizendo que os hospitais israelenses podem entrar em colapso se nada for feito. Ronni Gamzu, chefe do grupo técnico que assessora o governo na pandemia, apresentado pela imprensa local como o “czar do coronavírus” em Israel, disse que “o país tem possivelmente o nível mais alto de propagação do vírus”. Gamzu contabiliza 400 novos pacientes em condições graves de saúde por mês, e estima que esse número seguirá crescendo se nada for feito.
Ele reconheceu que o governo demorou em tomar as medidas apropriadas antes, e considerou que, se isso tivesse sido feito a tempo, o país poderia ter evitado as restrições que impõe novamente agora.
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