As ferramentas digitais que permitem realizar chamadas de vídeo com uma ou mais pessoas já eram usadas antes da pandemia do novo coronavírus.
Com as medidas de isolamento social necessárias à contenção da doença, porém, elas se tornaram parte indissociável da rotina de quem está trabalhando de casa ou tendo aulas. Representam, também, uma maneira de “estar junto” de amigos e familiares, em um momento no qual a falta de convívio com essas pessoas traz impactos negativos para a saúde mental.
A explosão no uso de aplicativos como Zoom, Google Hangouts, Skype e outros, porém, está deixando as pessoas esgotadas. O relato dessa experiência coletiva deu origem, recentemente, à expressão em inglês “Zoom fatigue” – o cansaço provocado pelo Zoom e seus equivalentes, considerado por muitos usuários mais intenso do que o sentido após interações presenciais.
Por que ficamos tão cansados
A principal explicação dada por pesquisadores de áreas como a ciberpsicologia é que a comunicação por vídeo exige um nível de atenção maior dos participantes por eliminar ou dificultar a percepção dos sinais não verbais que acompanham a fala.
Em uma conversa presencial, o cérebro processa não apenas o que está sendo dito como uma série de outros detalhes que adicionam sentido às palavras.
Para a maioria das pessoas, perceber esses sinais não requer um grande esforço. Em uma ligação de vídeo, porém, a habilidade de captá-los fica prejudicada pelo fato de vermos apenas a imagem do interlocutor enquadrada dos ombros para cima, ocultando gestos e outros componentes de sua linguagem corporal. Se a qualidade do vídeo estiver ruim, até a leitura da expressão facial do outro se torna difícil.
Isso exige um esforço extra de concentração, uma atenção intensa e contínua nas palavras sendo faladas para suprir a falta de elementos não verbais.
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O problema da exaustão é amplificado nas conferências em grupo, quando a tela exibe a imagem de muitas pessoas ao mesmo tempo. A disposição dos participantes em galeria sobrecarrega a visão central, forçando cérebro a decodificar todos os sinais ao mesmo tempo.
Isso leva a um fenômeno chamado “atenção parcial contínua”, no qual, na tentativa de não perder nada, entramos em um estado de alerta e prestamos atenção a várias fontes de informação ao mesmo tempo, mas de maneira superficial. Além do efeito estressante provocado pelo excesso de estímulo e pela atenção despendida, pode haver uma sensação final de despropósito, com a pessoa sentindo-se drenada e com a impressão de não ter feito nada.
Sendo mais difícil apreender as reações de quem ouve, como expressões de interesse ou gestos de concordância, quem fala pode se sentir perdido. Se a câmera estiver ligada, a consciência do olhar dos outros sobre si próprio também pode ser um fator adicional de pressão e estresse.
Por fim, a circunstância de isolamento social contribui para a sensação de esgotamento causada pela maratona de chamadas de vídeo. Estar confinado em um único espaço, sem separação entre aspectos da vida como trabalho, lazer e família potencializa sentimentos negativos. Para quem mora com filhos ou com outras pessoas, soma-se a isso a necessidade de pedir silêncio e a preocupação com possíveis interrupções durante as reuniões virtuais.
Como reduzir esse efeito
Restringir a quantidade de chamadas
Especialistas têm recomendado reduzir as videoconferências ao necessário. No trabalho, vale avaliar se uma conversa por vídeo é a opção mais eficiente para determinada situação ou se o assunto poderia se resolver com um e-mail ou por meio de mensagens de áudio. Já nas conferências com grupos de amigos, é menos cansativo participar quando se tem vontade do que fazê-lo para cumprir uma obrigação social
Se possível, desligar a câmera
Desativar a própria câmera quando possível ou ocultar sua imagem da tela diminui a energia gasta estando hiperconsciente da própria imagem e da observação alheia. Em ligações que reúnem várias pessoas, pedir a quem não estiver falando para desligar a câmera também contribui para diminuir o estímulo visual com o qual o cérebro precisa lidar
Evitar realizar outras tarefas
Fechar programas ou abas do navegador que possam ser uma distração durante a chamada e colocar o celular de lado ajudam a permanecer presente e concentrado no que está sendo dito. Além de potencializar o cansaço mental, realizar múltiplas atividades tem impacto sobre a memória e a produtividade
Fazer pausas entre videoconferências
Participar de várias chamadas de vídeo consecutivas se tornou comum na pandemia, especialmente para quem está fazendo home office. É recomendado parar durante alguns minutos entre uma reunião e outra, se possível afastando-se das telas dos dispositivos para descansar os olhos e movendo-se pelo ambiente.