A OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou na tarde desta quarta-feira (11) estado de pandemia diante da expansão do novo coronavírus. O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a declaração do órgão vem tarde. “Desde a semana passada o Brasil já trata como pandemia”, disse à imprensa momentos depois do anúncio.
Segundo a organização, a nomenclatura foi evitada até aqui por que havia um temor de que países se empenhassem menos em realizar medidas protetivas caso a doença parecesse impossível de conter.
“Pandemia não é uma palavra a ser usada de modo trivial ou descuidado. É uma palavra que, se usada de maneira inadequada, pode causar medo irracional ou aceitação não-justificada de que a luta acabou, levando a sofrimento e morte desnecessários”, afirmou Tedros Adhanom, diretor da OMS.
Glossário
Surto
É quando há o aumento repentino dos números de uma doença em uma região específica.
Epidemia
É caracterizada quando há o aumento de surtos em diversas regiões.
Pandemia
É definida quando há um grande número de epidemias em diversas regiões do planeta, sendo o pior dos cenários infectológicos.
O balanço até 11 de março
De acordo com a OMS, há registros de coronavírus em mais de 114 países, mais da metade dos países do mundo (195). Segundo dados da entidade, eram mais de 4.500 mortes e 122 mil casos confirmados em todo o mundo até quarta-feira (11). No Brasil, eram 69 casos confirmados.
O diretor da OMS afirmou que alguns países estão com dificuldades devido a falta de condições para lidar com a doença, mas que o problema com outros é a falta de empenho. “Todo o dia avisamos países a tomar atitudes urgentes e agressivas. Soamos o alarme de maneira alta e clara”, afirmou Adhanom.
De acordo com o Instituto Pensi, centro de pesquisa clínica em pediatria do Hospital Infantil Sabará, se o Brasil chegar a 50 casos confirmados de coronavírus, esse total pode escalar para mais de 4 mil casos em 15 dias e cerca de 30 mil depois de 21 dias.
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As recomendações da OMS
O termo pandemia se refere a um alcance maior, não a uma letalidade ou potência aumentada da doença. De acordo com a OMS, descrever a situação dessa maneira “não muda a avaliação a respeito da ameaça representada pelo coronavírus. Não muda o que a OMS está fazendo e não muda o que os países deveriam fazer”. Ressaltou que é hora de escalar mecanismos de resposta a emergências.
De acordo com o comunicado da entidade, as estratégias e abordagens dos governos devem se pautar por quatro áreas principais:
- Primeiro: se preparar e estar pronto
- Segundo: detectar, proteger e tratar
- Terceiro: reduzir a transmissão
- Quarto: inovar e aprender
Entre as recomendações, está a comunicação com a população sobre riscos e proteção, o isolamento dos casos confirmados e proteção e treinamento de pessoal da saúde.
“Hoje [com o estado de pandemia], a vigilância serve para todas as pessoas e deixamos de fazer buscas individualizadas. Tratamos todas as pessoas como possíveis contaminados”
O que o Brasil está fazendo
Em fala no Congresso, o ministro Mandetta enfatizou que o país se antecipou ao tomar medidas que já consideravam o coronavírus como uma pandemia.
De acordo com o ministro, a rede de postos de saúde com horário estendido foi ampliada de 1.500 pontos para 6.700 em todo o país. Segundo o ministério, os mais de 42 mil postos de saúde existentes no país conseguem atender cerca de 90% dos casos de covid-19, já que são mais leves e podem ser resolvidos na Atenção Primária.
A campanha de vacinação contra gripe, que começará em 23 de março, também foi ajustada diante do avanço do vírus. Os primeiros a serem vacinados serão idosos e profissionais de saúde, mais vulneráveis. Na campanha de 2019 o primeiro grupo foi de crianças e gestantes. A ideia é que pessoas com mais de 60 anos não precisem ir para postos de vacinação em uma fase mais avançada do coronavírus.
A vacina que será aplicada é contra a influenza. Ela não protege contra o coronavírus, cuja vacina talvez só fique pronta em 2021, mas ajuda profissionais de saúde na triagem de casos, possibilitando um diagnóstico mais rápido da covid-19.
Em vídeo divulgado no Twitter, o ministro da Educação Abraham Weintraub defendeu a criação de “plano de aulas remotas” para a eventualidade de uma cidade ou região ter de suspender a ida à escola. Seu colega da Saúde, no entanto, afirmou que qualquer iniciativa nesse sentido pode colocar em risco o grupo dos mais velhos. “Quando se fazem férias escolares ou suspensão de aula, essas crianças vão ficar com quem? Se mandarem para os avós, como é o hábito das famílias brasileiras, eu vou estar expondo, porque 30% [dos casos] são assintomáticas, e um tanto dessas crianças e adolescentes têm formas leves”, disse o ministro Mandetta.
Outros momentos em que houve pandemia
Maior pandemia do século 20, a gripe espanhola durou de 1918 a 1920 e matou entre 50 e 100 milhões, dependendo da estimativa. Ela infeccionou cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os movimentos de milhares de tropas na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), facilitados por meios de transporte mais eficientes, são apontados como fator decisivo para a disseminação do vírus H1N1, transmissor da gripe.
Em 2009, uma nova pandemia do vírus H1N1 correu o planeta. Apelidada de gripe suína, devido a sua origem em vírus encontrados em porcos, vitimou entre 150 mil e 580 mil pessoas. Foi a primeira pandemia do século 21, com casos registrados em quase todos os países do mundo.
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