Um projeto de cartografia da Universidade Rice, no Texas, EUA, criou um atlas interativo que ilustra a evolução urbana do Rio do século 16 até hoje. A plataforma “ImagineRio” (ou ImagináRio, em sua versão em português) também incorpora imagens feitas por artistas visitantes da cidade ao longo da história, como obras do pintor francês Jean-Baptiste Debret produzidas no século 19 ou as muitas fotografias do franco-brasileiro Marc Ferrez, do início do século 20.
“Assim que geolocalizamos a imagem, podemos clicar no mapa e ver o que o artista viu — é uma espécie de viagem no tempo”, disse Alida Metcalf, chefe do departamento de história da universidade e uma das responsáveis pelo projeto, ao site Archdaily.
Como usar a plataforma
A linha do tempo no topo da página permite avançar e recuar na história do Rio. Clicando no ícone “Urban Projects”, no lado superior esquerdo da tela, é possível visualizar, em vermelho, o desenho dos principais projetos urbanísticos, de Beaurepaire-Rohan, de 1840, a Le Corbusier, em 1936 — no total são quatro. O Nexo já falou mais sobre esses projetos de reforma urbana (clique aqui e veja o material especial).
No trabalho dos americanos, há mapas antigos, que aparecem em uma barra vertical à esquerda, e uma busca para localizar elementos específicos na época selecionada, como uma rua ou construção, no canto superior direito. Na barra localizada à esquerda, também pode-se escolher destacar edificações, ruas, cemitérios, estações de trem e outras “aquisições” da cidade conforme o tempo.
O acervo completo das imagens iconográficas da cidade, geolocalizadas na plataforma e disponíveis para o uso em Creative Commons, pode ser acessado clicando aqui.
O que a ferramenta diz sobre as origens da cidade
A ocupação do território que hoje corresponde ao Rio de Janeiro começou no Morro Cara de Cão, à margem direita da Baía de Guanabara, ainda no século 16.
A primeira edificação mapeada é a “Ermida de Santa Luzia”, edificação religiosa à beira-mar erguida no século 16. Mais tarde, nos anos 1560, foi erguida a Fortaleza de São João, onde atualmente é o bairro da Urca.
A posição geográfica estratégica do Rio, com saída para o mar, explica por que várias das edificações que marcam seu desenvolvimento, até o século 19, eram fortes militares, disse ao Nexo Paulo Sandroni, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e “fellow” do Lincoln Institute of Land Policy. A invasão dos franceses, entre 1555 e 1570, tornou urgente a necessidade de proteger o território com fortificações. Um corsário francês voltaria a investir na invasão da baía de Guanabara mais tarde, em 1711.
Convidado a observar a plataforma “ImagineRio”, Sandroni também disse ser possível associar o surgimento das grandes obras públicas de infraestrutura a ciclos econômicos de grande prosperidade. Nesse contexto, ele destaca a construção do Aqueduto da Carioca, no século 18, hoje conhecido pelos Arcos da Lapa.
A obra portentosa marca a importância econômica do Rio, cidade por onde saía o ouro durante o ciclo minerador no século 18 — essa relevância foi coroada em 1763, com a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro.
A plataforma permite, ainda, assistir ao “desaparecimento” de diversas lagoas que faziam parte da geografia do Rio. Oito lagoas foram aterradas na região central da cidade, entre o início do século 17 e o fim do século 18: entre elas, a Lagoa de Santo Antônio, onde hoje é o Largo da Carioca, a Lagoa da Carioca, onde se situa atualmente o Largo do Machado, e a Lagoa do Boqueirão, a última da série e que ficava em frente aos Aquedutos da Carioca, onde hoje se localiza o Passeio Público.
Inaugurado nos anos 1930, até o Aeroporto Santos Dumont foi construído sobre um aterro, o Aterro do Calabouço.