O spread no Brasil já era um dos mais altos do mundo antes da crise econômica, mesmo assim cresceu bastante nos últimos anos. Segundo dados do Banco Central, a diferença de taxa entre o que os bancos pagam quando investimos (ou seja, quando eles pegam empréstimos dos clientes) e o quanto cobram para emprestar para esses clientes está em 40,7 pontos porcentuais - era de 25,7 em 2014, um crescimento de cerca de 15 pontos percentuais em dois anos.
“[Spread bancário] é a diferença, em pontos percentuais, entre a taxa de juros pactuada nos empréstimos e financiamentos (taxa de aplicação) e a taxa de captação”
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC, Isaac Sidney, disse na terça-feira (18) que os bancos precisam diminuir o spread. Atualmente, as instituições bancárias captam dinheiro (recebem investimentos) pagando 12,3% ao ano e emprestam, em média, a 53%.
“Precisamos reduzir o custo do spread bancário ao cidadão, para o Estado, para o País e as instituições financeiras poderem dar sua parcela de contribuição.”
Uma das explicações para o aumento do spread está na crise econômica. Durante os períodos de recessão, a oferta de crédito diminui e as taxas cobradas aumentam. Com a piora da economia e o aumento do desemprego, cresce o medo da inadimplência. Os bancos se colocam na defensiva, subindo juros, para se prevenirem de eventuais calotes.
O spread é um fator constantemente apontado como um problema para a economia nacional. À medida em que o custo do crédito é alto, as pessoas e empresas são desincentivadas a tomar empréstimos. Isso dificulta investimentos, empreendedorismo e consumo - consequentemente, a atividade econômica é afetada.
Fora do Brasil
O aumento do spread nos últimos meses tem a ver com a crise, mas a diferença entre o que os bancos cobram e o que pagam é historicamente alta no Brasil. Isso fica mais evidente quando se olha para as taxas praticadas em outros países.
Comparação

Porque no Brasil é tão alto
A taxa cobrada pelos bancos para emprestar dinheiro é formada por: custo de captação, tributos pagos, custos administrativos, custo do risco e lucro dos bancos.
No Brasil, a taxa básica de juros da economia, a Selic, que o Banco Central reduziu em outubro para 14% ao ano, remunera aplicações de baixo risco e funciona como um piso para os bancos.
O custo do risco é o que aumentou mais nos últimos meses. Os bancos embutem no que cobram uma previsão de inadimplência, para se protegerem. Isso encarece o crédito.
O que pesa

Além disso, o mercado de bancos de varejo no Brasil é dividido entre poucas empresas, o que dificulta a concorrência que poderia resultar em redução de taxas. A baixa variedade de opções, somada à pouca educação financeira da população, podem indiretamente incentivar os bancos a praticarem juros maiores.
O Banco Central diz que seu trabalho pela redução das taxas de spread bancário envolve a promoção de transparência de dados, tanto dos clientes como dos bancos. Assim, segundo o BC, as instituições podem avaliar melhor o risco de calote e os clientes podem escolher quem oferece as melhores taxas e serviços
Guerra de Mantega
A disputa pela redução do spread bancário no Brasil não é nova. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda Guido Mantega cobrava com frequência as instituições pela redução das margens de lucro.
A medida mais drástica do governo foi, em 2012, mandar reduzir o spread dos bancos públicos, principalmente da Caixa, para forçar a concorrência a seguir o mesmo caminho. Em um primeiro momento o spread baixou, mas logo voltou a subir. No fim de 2015, a margem dos bancos públicos já estava praticamente igual à dos privados.
Na época, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) argumentou que a redução do spread estava diretamente ligada à diminuição dos custos dos bancos. Além da cobrança de IOF e da taxação de lucros dos bancos, a Febraban reclamava do nível de compulsórios - parcela do dinheiro das instituições que tem de ser mantida no Banco Central.