O mundo gira hoje em torno de um vírus avassalador, que já levou vidas e derrubou economias, mas que também já nos deixou algumas lições. A primeira delas diz respeito à desigualdade social, que ainda é a maior mazela de nosso país. A segunda é que a ciência, somente ela, é quem nos salvará, não só da morte, mas da miséria do povo e da nossa falência como Estado.
Nações de economia forte e com os melhores índices de desenvolvimento humano do mundo investem massivamente em pesquisa, educação e tecnologia. A equação é simples: países ricos são ricos justamente porque sabem onde investir.
Em décadas recentes, países que enfrentaram crises financeiras aumentaram seu investimento em pesquisas para retomar seu desenvolvimento e crescer em longo prazo. O Brasil, no entanto, faz o oposto quando a maior liderança do país se coloca contra as orientações de organismos internacionais, como a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Ao vetar a obrigatoriedade do uso de máscaras para proteger seu povo, o presidente incide em vários retrocessos: rumo ao fracasso econômico, ao genocídio, à destruição da imagem internacional do país, da saúde e da vida — a sua própria, inclusive. Ele caminha na direção de muita coisa, mas não do avanço científico.
Nossos cientistas contam com recursos escassos para desenvolver projetos, além de driblarem a burocracia e a morosidade para importar reagentes
No dia 8 de julho, Dia Nacional da Ciência, protocolei uma Indicação que sugere ao presidente a apresentação de um projeto de lei para vedar cortes nos recursos destinados a órgãos e agências voltadas a pesquisas científicas. Constitucionalmente, essa é uma matéria cuja iniciativa é de competência privativa do chefe do Poder Executivo. Contudo, como senadora por São Paulo e cidadã admiradora da ciência, de forma alguma poderia ficar inerte em um momento em que a ciência precisa não só ser enaltecida, mas blindada de qualquer dano ou retrocesso.
Sabemos que a força motriz da ciência brasileira hoje se concentra no estado de São Paulo. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por exemplo, hospeda 42% das startups brasileiras, que respondem igualmente por 42% de todo o dispêndio nacional em pesquisa e desenvolvimento privado. Os pesquisadores paulistas também são autores de 42% dos artigos brasileiros publicados em revistas indexadas e 32% dos doutorados concluídos no país são realizados em São Paulo.
Além disso, não podemos esquecer que essa mesma fundação apoia 8,7 mil bolsistas em diferentes modalidades e financia hoje mais de 4,2 mil projetos de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, tanto na academia como em empresas.
Sabemos que as universidades mais bem conceituadas do mundo são reconhecidas justamente por suas pesquisas. A lógica é a mesma das nações ricas. As melhores universidades são assim porque fazem pesquisa, e não o contrário. Não investir em ciência no campo da educação é desestimular nosso corpo científico, reconhecido internacionalmente, a ficar no país e desenvolver pesquisas aqui, mantendo-nos em competitividade com o mundo.
Usemos o exemplo dos EUA, nação pela qual nosso presidente tem apreço. Lá é muito comum que pesquisadores recebam prêmios em dinheiro para executar os seus estudos. Aqui, nossos cientistas contam com recursos escassos para desenvolver projetos, além de driblarem a burocracia e a morosidade para importar reagentes, que muitas vezes demoram tanto para chegar ao ponto de paralisar por meses estudos em andamento. Em meio a todas essas dificuldades, ainda assim, nossos pesquisadores conseguem desenvolver trabalhos importantes — reconhecidos dentro e fora do país.
Para mostrar a importância do investimento brasileiro em ciência e pesquisa, realizei uma parceria com cientistas brasileiros, que colaboram com conteúdo científico em minhas redes sociais. O objetivo do AmaraCiência é abrir espaço para novidades da área, informar pesquisas em andamento, avanços e, principalmente, a capacidade e talento de nosso corpo científico que hoje se debruça sobre os estudos da covid-19.
Os tempos são difíceis, mas são também de esperança, com o início dos testes no Brasil de importantes vacinas desenvolvidas pelo mundo. É o caso da imunização elaborada pelo laboratório chinês Sinovac e dos testes da vacina inglesa desenvolvida pela Universidade de Oxford, que vem sendo testada por aqui em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Não podemos mais permitir a exportação de nossos cérebros. Se quisermos salvar vidas e a economia do país, o caminho é a ciência.
PS: Este artigo foi produzido como parte da campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência. Ao longo do mês de julho, colunistas abordam temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados ou por eles próprios.