Não se pode negar a influência de Olavo de Carvalho, morto no dia 25 de janeiro, no Brasil de hoje. De fato, não muitos personagens da vida brasileira contemporânea dariam motivo a um obituário de meia página no jornal americano The New York Times. Para além dessa influência, a meu ver em larga medida nefasta – haja vista seu papel na ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência, bem como sua voz negacionista ao longo da pandemia –, a proeminência adquirida por Olavo é sintomática de algumas das forças fundamentais que vêm moldando o mundo contemporâneo.
Em particular, a ascensão de Olavo de Carvalho à posição central que ele veio a ocupar no debate político brasileiro personifica o incremento da polarização negativa e, ao mesmo tempo (e de forma até paradoxal), a redução das distâncias culturais no mundo globalizado. Tal ascensão não teria ocorrido sem as novas tecnologias das mídias sociais, e dessa forma ela exemplifica como estas também estão por trás da polarização e redução de distâncias, no plano global.
Se eu fosse resumir o impacto do chamado “olavismo”, eu diria que foi o de tornar o Brasil um pouco mais parecido com os Estados Unidos, em especial na dimensão política, naquilo que a política norte-americana tem de pior e mais corrosivo. Olavo foi, ao longo das últimas duas décadas, um vetor-chave da importação dos eixos em torno dos quais os EUA vêm se polarizando.