Ainda que tentemos escrever sobre outros assuntos, a espantosa deterioração da democracia brasileira, exemplificada pelo recente 7 de setembro bolsonarista, força a retomada do tema. É cada vez mais claro que a alternativa no momento é entre um processo de impeachment que remova o presidente ou, na melhor das hipóteses, um longo e penoso caminho para tentar recompor as nossas combalidas instituições democráticas.
Talvez aqui o leitor se pergunte: mas não está tudo bem agora? Afinal, Jair Bolsonaro assinou a cartinha ditada pelo ex-presidente Temer, jurando respeito a tudo e todos a despeito do “calor do momento”. Ele moderou, as instituições funcionaram, a Bovespa subiu, enfim: a democracia venceu!
Acreditar nessa narrativa, infelizmente, requer ignorar o fato de que o equilíbrio político do Brasil pós-redemocratização foi fundamentalmente alterado pelo bolsonarismo. O que temos agora é um outro cenário, com claros traços não-democráticos, por conta da presença de um elemento que tinha desaparecido do jogo político: a ameaça de violência. Construir um novo equilíbrio democrático só é possível se essa ameaça for retirada do cenário, e isso não ocorrerá enquanto Bolsonaro for um ator político relevante.