A democracia tem enfrentado um momento de desafios e incertezas ao redor do mundo, no que vem sendo denominado “recessão democrática”. Pela primeira vez em algumas décadas, desde o “fim da história” descrito por Francis Fukuyama (e incompreendido por muitos) há quase 30 anos, não está claro se o futuro pertence à democracia liberal, ou a alternativas autoritárias.
Em particular, o crescimento sem precedentes da China trouxe à baila a possibilidade de que um modelo autocrático ofereça um dinamismo econômico superior. Se isso pode se sustentar de modo duradouro é uma questão em aberto, e há razões para ceticismo a despeito do que preconizam os entusiastas do modelo chinês e de sua ênfase no planejamento estatal. No entanto, há algo novo que pode vir a criar uma vantagem econômica para regimes autocráticos: a tecnologia da inteligência artificial.
Para entender esse elemento novo, cabe primeiro reconhecer o já sabido: se há algo que os economistas aprenderam ao longo do estudo do desenvolvimento econômico, é que o crescimento de longo prazo depende da inovação tecnológica. É possível crescer por algum tempo com base na acumulação de insumos – adicionando máquinas, construindo fábricas, trazendo mais gente para o mercado de trabalho. Isso, porém, em algum momento encontra limites: fica cada vez mais caro produzir mais simplesmente comprando mais máquinas ou contratando mais gente. Continuar crescendo requer fazer mais e melhor com os mesmos insumos, e é isso que a inovação tecnológica faz.