O machismo é um fenômeno tão generalizado que há quem ache que ele seja “natural”. Não é! O machismo é uma construção social que prolifera em ambientes onde apenas homens controlam o poder, determinam a hierarquia e submetem todos os demais grupos de gênero a práticas de subordinação social. A homofobia e o machismo estão presentes no nosso dia a dia, nos hábitos cotidianos, mas são muito visíveis, também, no mundo da política, onde a prática tem implicado em tornar invisível a atuação de mulheres que ocupam cargos importantes no governo de seus países, mas que não seguem a cartilha dos dirigentes masculinos.
Talvez por isso o noticiário político internacional esteja sempre repleto de homens brancos, de meia idade, com suas gravatas vistosas e ternos bem (ou mal) cortados. Só há espaço para políticos normativos como Donald Trump com seu cabelo de palha, Boris Johnson (que segue o mesmo estilo de cabeleira), o primeiro ministro húngaro Viktor Orban – que dá um golpe em cima do outro –, o ditador da Nicarágua Daniel Ortega, ou o ultra-direitista primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no poder desde 2009. Isso sem esquecer de nossa versão tropical, que atende pelo nome de Jair Bolsonaro e segue o mesmo receituário populista e autoritário.
Em comum, todos eles falam grosso, pensam que têm um canal direto com o povo e por isso desrespeitam instituições, políticos, jornalistas e cientistas. Em comum, também, muitos delestêm apanhado feio de um pequeno organismo que atende pelo nome de coronavírus, que causa a doença covid 19. Se num primeiro momento, vários deles simplesmente negaram a existência e a importância da Praga, hoje têm sido obrigados a reconsiderar suas políticas, e formas de agir e de atuar na crise. Um deles, Boris Johnson, amargou o próprio remédio: foi parar no hospital, contaminado, e ao sair elogiou dois enfermeiros imigrantes que cuidaram dele – a despeito do primeiro-ministro inglês ter uma plataforma contra a entrada de mão de obra estrangeira no Reino Unido.