Muitas vezes a realidade copia a ficção, e não contrário. Este é o caso do famoso conto “O Alienista” (1881), de Machado de Assis. A descrição do médico, que internou a todos na cidade (incluindo a mulher), e depois internou a si próprio, tudo em nome da ciência, antecede em alguns anos os estudos de Raimundo Nina Rodrigues, médico que nasceu no Maranhão, mas ficou conhecido como fundador da Escola Médica da Bahia. Em suas obras, o alienista de Salvador procurava demonstrar como os casos de alienação e de criminalidade eram provenientes da mestiçagem e do que chamava ser “degeneração”. Por isso, em seu livro “As Raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, publicado postumamente em 1938, ele propunha a exclusão desses indivíduos do convívio social. Mas atenção: a obra de Machado antecede em alguns anos a de Rodrigues. Portanto, a literatura, nesse caso, não se comporta como “produto” de sua época. Na verdade, ajuda a “produzir” a realidade que pretende apenas copiar.
E nesses tempos de coronavírus, nunca a literatura foi tão necessária! Com um livro na mão, nunca se está, de fato, “isolado”. Um livro também permite viajar, mesmo sem ter que enfrentar aeroportos e aviões superlotados.
Vários autores, veículos e jornais têm feito listas de livros cuja associação com o momento que estamos passando é quase imediata. Com o perigo de me repetir, vou fazer aqui a minha relação de obras e da minha maneira.