Na biografia de Lima Barreto, não são poucos os episódios em que o autor narra práticas de discriminação e de preconceito racial, sofridos por ele, no contexto da Primeira República (1889-1930). Mas um caso, que ocorreu na época em que o futuro escritor era ainda estudante, chama particular atenção. A essas alturas, Lima era aluno da Escola Politécnica e sofria não só para passar em certas disciplinas (em cálculo, sobretudo), como por causa de atitudes ríspidas dos professores e colegas. O certo é que vivia constrangido diante dos alunos mais abonados, estudantes ricos que usavam polainas brancas, chapéu coco, bengala com aplique de ouro e se vestiam no Raunier – uma das lojas mais chiques da cidade.
Se durante o período em que frequentara a escola e o colégio em Niterói ainda não sentira de maneira tão forte o impacto das diferenças sociais, no ensino superior, o fato de ser pobre e neto de escravizados passara a aparecer como um grande fardo. Seus colegas podiam comprar livros à vontade, frequentavam os melhores restaurantes, iam aos teatros sem ter que fazer contas. Já Lima, sofreria com o menosprezo dos colegas mais enriquecidos, que, vindos de diferentes estados do Brasil, faziam muitas vezes parte da extinta nobreza do Império e não traziam a cor negra tão evidente em seu semblante.