Desde o reaparecimento do arredio Fabricio Queiroz, por coincidência ou não, o presidente Jair Bolsonaro tem sido bastante mais comedido em seus arroubos explicitamente golpistas. Em consequência, acalmou-se um tanto o debate sobre os riscos de ruptura democrática no Brasil, à medida que o espectro de uma intervenção explícita das Forças Armadas saiu das manchetes dos jornais.
Permanece, contudo, a sensação constante de que estamos vivendo, senão sob um “regime de exceção” — o velho eufemismo tão frequentemente usado para descrever rupturas tradicionais — sob um governo de alguma maneira anormal, distinto daqueles a que nos acostumamos sob a Nova República.
Essa sensação me é particularmente familiar, pois é a mesma que me assombra desde a ascensão do trumpismo nos EUA. Com quatro anos de experiência, ela continua tão ou mais vertiginosa quanto no momento em que Donald Trump desceu a escada rolante para anunciar sua candidatura. Sim, seguimos vivendo numa democracia, mas algo profundamente antidemocrático parece estar em curso. Ou estaríamos exagerando? Como saber?