Nos últimos dias, tenho ouvido histórias assustadoras. Não me refiro a notícias verídicas e temerosas, como os números cada vez mais elevados de covid-19 no mundo, ou o fato de termos um presidente que ignora recomendações sanitárias e pessoalmente cumprimenta centenas de pessoas após ter contato direto com indivíduos infectados pelo novo coronavírus. Me refiro a histórias menores, do nosso cotidiano e redes mais próximas: um vizinho que recomenda pingar azeite com cúrcuma no nariz para prevenir infecção; um “químico autodidata” disseminando por vídeo em redes sociais questionamentos sobre a eficácia do álcool gel e sugerindo substituir por vinagre; parentes de um amigo considerando tomar Creolina oralmente para aumentar a resistência a infecções. Vejo uma proliferação dessas informações completamente falsas e perigosas, presentes em número enorme. O resultado é que estamos sobrecarregando nossas mídias e a nossa atenção pessoal, gerando confusão e contribuindo para propagar o pânico durante uma pandemia. Precisamos do oposto. Precisamos de calma, foco em verdadeiras soluções e apoio para quem está nas linhas de frente.
Há poucas semanas, seria inconcebível recomendar fechar o comércio e manter crianças fisicamente afastadas de seus avós, mas estamos hoje vivendo a realidade em que essas são recomendações verdadeiras, baseadas em fatos. Como, perante mudanças sociais tão rápidas e impactantes, podemos separar o que é notícia falsa do que é verdade? Como saber o que devemos ou não devemos fazer? Pra complicar, as duas perguntas são distintas: há tanto notícias falsas circulando quanto notícias que não são falsas, mas que são opiniões individuais, baseadas em dados ainda preliminares, que apontam em direções que não devemos seguir como sociedade sem maior comprovação.
Ao ouvir e respeitar as instituições, acima de indivíduos, sairemos melhor e mais unidos destes tempos extraordinários