O debate acalorado de economistas nos jornais brasileiros das últimas semanas parece ridículo para quem olha de fora. Ele inclui erros em planilhas de Excel, erros econométricos de projeções, discussões sobre o dicionário e um dogmatismo extremo tanto por parte de economistas heterodoxos como ortodoxos. Precisamos urgentemente mudar de foco. Parar de discutir e analisar dados agregados e colocar os esforços em entender a persistência da crise econômica brasileira e que tipo de políticas seriam eficazes para fazer a economia crescer novamente.
O primeiro ponto em que não deveria haver tanta discordância, dada a evidência empírica recente e robusta, é que ao gastar recursos o governo incentiva a atividade econômica. As estimações mais confiáveis do multiplicador fiscal que usam variações regionais nos dizem que ele é de aproximadamente 1.8 – de acordo com o trabalho recente do economista Gabriel Chodorow-Reich, que resume e interpreta grande parte da evidência empírica recente (mais de 20 papers) em seu trabalho "Geographic Cross-Sectional Fiscal Spending Multipliers: What Have We Learned?". Para o Brasil, Raphael Corbi e coautores estimam no excelente trabalho "Regional Transfer Multipliers", publicado no Review of Economic Studies, um multiplicador fiscal de 2.
É claro que o multiplicador fiscal será menor se há muita corrupção ou se obras não são acabadas, e devemos discutir se num momento de crise fiscal esse deveria ser o melhor uso dos recursos públicos. Mas para isso será necessário pensar sobre a efetividade do gasto, quem recebe recursos do governo e o que é feito com esses recursos. Essa discussão é impossível de ser feita se não olharmos para dados de empresas e setores econômicos – que é precisamente o que a literatura macroeconômica de ponta anda fazendo.